Devagar...
descontrói-se o reino na terra
e um outro ainda turvo
se alevanta
onde a saudade
de pouco a pouco
se agiganta
como uma sombra no sopé da serra.
No alto e baixo
de uma Gangorra centenária
uma pedra fundamental
se esfacela
rasga-se um gibão
rompe-se um arreio
no chão a cela
dessa cavalgada temerária.
No sertão dos tempos
no sertão dos séculos
escreveu tua história antiga
seu cavaco
a embalar velha cantiga
que confortava a velhos
e fazia sonhar os novos
com as eras de antanho
com as secas e as cheias
no seu contar sem tamanho
das veredas e nos matos
e seu plantar perene.
Plantou tanto e sempre
que sua colheita
se espalha além das vistas
de sua chapada
tanto direita
quanto a esquerda
se perde no ondular
do mar-sertão
e pra onde olhamos
de um certo modo
sempre te vemos
no seu Carneiro
mesmo outro bicho
mesmo outro nome
marcado a ferro
marcado a sangue
marcado a alma
que não a negue:
no seu colher
vai se colhendo
no lembrar
se vai reinando
por nosso auxílio
viveu mais lírio
viveu mais tempo
que o seu tempo
e se aceitamos tal despedida
é por que levas
teu milho doce
teu feijão forte
com teus arreios
erigir ainda outra morada
fazer do elísio
tua cancha terra
correr no céu
tua vaquejada.
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