quarta-feira, 13 de julho de 2016

PEDRA FUNDAMENTAL

Devagar...
descontrói-se o reino na terra

e um outro ainda turvo
se alevanta

onde a saudade
de pouco a pouco

se agiganta
como uma sombra no sopé da serra.

No alto e baixo
de uma Gangorra centenária

uma pedra fundamental
se esfacela

rasga-se um gibão
rompe-se um arreio

no chão a cela
dessa cavalgada temerária.

No sertão dos tempos
no sertão dos séculos

escreveu tua história antiga
seu cavaco

a embalar velha cantiga
que confortava a velhos

e fazia sonhar os novos
com as eras de antanho

com as secas e as cheias
no seu contar sem tamanho

das veredas e nos matos
e seu plantar perene.

Plantou tanto e sempre
que sua colheita

se espalha além das vistas
de sua chapada

tanto direita
quanto a esquerda

se perde no ondular
do mar-sertão

e pra onde olhamos
de um certo modo

sempre te vemos
no seu Carneiro

mesmo outro bicho
mesmo outro nome

marcado a ferro
marcado a sangue

marcado a alma
que não a negue:

no seu colher
vai se colhendo

no lembrar
se vai reinando

por nosso auxílio
viveu mais lírio

viveu mais tempo
que o seu tempo

e se aceitamos tal despedida
é por que levas

teu milho doce
teu feijão forte

com teus arreios
erigir ainda outra morada

fazer do elísio
tua cancha terra

correr no céu
tua vaquejada.

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