quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

CARTA A UM "EXILADO"



É a busca permanente pela verdade. Ele acredita que apesar de tudo, ela existe. Não se fala aqui de uma verdade filosófica sobre a qual muitas óticas e pontos de vistas mesclados de subjeções variadas pode acometer várias pessoas; não é uma verdade como percepção. É a busca por uma verdade crua, sem floreios, sem versões. É a verdade que conta, denuncia como de fato as coisas acontecem. É a verdade que decompõe um fato, desnudando como as coisas são e não como elas parecem ser. Essa é a busca permanente de Roberto Saviano; busca alimentada por uma coragem que é o combustível para por em movimento um homem que não pode viver sem ela: a verdade.


Procurei em vão em que resenha ouvi ou li o nome de Roberto Saviano pela primeira vez. Inútil a busca. Não encontrei de onde seu nome me ocorreu. O fato foi que esbarrei com um exemplar de Gomorra numa feira de livros e não pestanejei em levar o livro pra casa. Não o li de imediato. O livro permaneceu por alguns dias entre tantos outros livros na minha estante.

Um dia sem ensaios, resolvi iniciar sua leitura. A princípio me pareceu apenas mais um livro com uma história interessante. Mas ele, além de ser interessante, se mostrou muito mais. Roberto Saviano, em Gomorra explica, sem pudor algum, todo um submundo, ou ainda, um outro mundo que movimenta esse nosso mundo na superfície. Desnuda os mecanismos por onde o ilícito se torna lícito. Como o poder se estrutura, de que forma age, calado, inexorável ocupando todos os espaços sem o quê as pessoas comuns possam se mexer sem que alcancem, ainda que sem perceber, a anuência do sistema. Gomorra nos deixa chocados, estarrecidos, e com um sentimento de que na verdade o mundo real é esse que não aparece e que esse em que aparentemente vivemos é o esboço de uma peça mal encenada.

Sempre impelido pela verdade, Roberto Saviano conta, sem medo (possa ser que sinta o medo, esse sentimento que nos tira a inocência – mas sua sede de verdade é maior e sobrepuja o medo), nomes, lugares, esquemas, crimes, práticas, vozes que se levantam contra a sujeira, vozes que se levantam para ocultar a sujeira; nos transmite a sensação em seus textos de que nada é como pensamos que seja e sim como algum punhado de homens poderosos quer fazer parecer. Depois de ler Gomorra ficamos com a sensação que a inocência já não existe e a verdade é uma utopia. Mas Roberto Saviano acredita nessa utopia. E por acreditar nessa utopia reuniu em outro livro igualmente poderoso, outro tanto de relatos contundentes, não apenas sobre a camorra, mas sobre muitos outros tipos de opressão.

Acabo de ler A Beleza e o Inferno. Nele, Saviano brinda seus leitores com o poder das palavras. Sim, se a coragem parece ser um combustível, uma espécie de munição, sua principal arma é a palavra. E em A Beleza e o Inferno podemos entender o quão importante é para o autor a capacidade das palavras transmitirem a verdade. O quanto, pela palavra, se pode gerar no indivíduo a reflexão. O quanto a literatura, enfim, pode fazer as pessoas enxergarem e dessa nova visão depreenderem que um outro mundo é possível.

A forma apaixonada e forte com que nos conta suas histórias e que desnuda todos os sistemas que fazem uso do poder para oprimir e com essa opressão maximizarem seus lucros, mostra a incrível força e sensibilidade de um homem que paga, diariamente, com sua vida, mas que nega veementemente a possibilidade de não buscar e contar a verdade.

Onde quer que esteja Roberto, permita-me lhe chamar assim, seja num quarto de hotel, em algum quartel dos carabinieri, em alguma casa escura e insuspeita; nas suas horas de profunda solidão, nos momentos em que talvez pense em fraquejar, acredite, vale a pena! Mais que impor medo aos seus algozes, que por isso te impuseram esse exílio forçado, seus escritos nos abriram os olhos, nos trouxe a tona, ainda que por muitas vezes não belo, o mundo real e um novo mundo possível por conta da profunda alienação da qual sua literatura nos tem libertado. E por isso quero transmitir humildemente o meu muito obrigado!

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

SILÊNCIO NA BORDA

Por que num instante
distante?

Há um silêncio
que fala?

Mas se fala
Pra onde vão?

Seus ecos
seus olhos
sua sombra brilhante

por que assim
nesse instante
distante?

Sua pele que toca
e não fala
movimento dispensável
do odor que exala

vem dizer que perto
ou distante
certo ou errante

pode ser tudo
e completo
ao mesmo tempo
que essa ausência
transbordante.