segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ELEIÇÕES EM TRÊS TEMPOS – SEGUNDO ATO, É UM BARATO

Se a eleição presidencial causa confusão ao eleitor, seja pela contradição dos candidatos, seja pela semelhança daquilo que dizem ser propostas, no estado do Rio de Janeiro, a disputa pelo governo estadual ganha ares de comédia. Os quatro candidatos com maior chance de vencer a eleição dão mostras do que é um estado falido, no que toca à capacidade de renovação das lideranças políticas.

Dos quatro, o candidato que parece ser novo, pois o nome não era amplamente conhecido antes da campanha eleitoral, é justamente o nome que emana do atual governo. Luis Fernando Pezão, carrega a falsa ideia de renovação, mas sua verdadeira essência é da continuidade. Construído nos bastidores da fase final do governo Sérgio Cabral, seu nome e figura carecem de força e popularidade junto aos eleitores. Excetuando o sul do estado, seu reduto natural, não parece ter força suficiente para alavancar as intenções de voto pelo restante do estado. Apesar de um excelente trabalho de marketing do PMDB, veiculando aspectos da vida pessoal do candidato, fazendo parecer que ele é um igual do povo, tais medidas parecem não ter surtido o efeito necessário para que vença sem dificuldades seus oponentes. Dessa maneira, Pezão carece de alma e discurso próprio, navegando sofrivelmente por entre as políticas e projetos de seu padrinho e antecessor. Tem até cara de bonzinho, mas é como se Sérgio Cabral ainda desse as cartas por trás da cortina.

Mais conhecido que Pezão, mas, talvez com um problema pior de confiabilidade, pois sequer consegue vencê-lo segundo as pesquisas, é o candidato do PT, Lindberg Farias. Aqui temos um duplo problema que só a política consegue produzir. Aliados em bases nacionais, PT e PMDB foram incapazes de considerar uma mesma campanha para o estado do Rio de Janeiro. Uma das duas campanhas não tem lugar nesse pleito, e claramente vem minando a capacidade de um dos dois candidatos vencerem os outros oponentes. Historicamente, o PT é fraco no Rio, ainda que tenha aumentado sua influência no estado após três governos nacionais e vir apoiando o PMDB nos governos estaduais anteriores. A fome de poder do PT, não satisfeito em enfraquecer de forma quase letal o PSDB em São Paulo, pode e será sua própria ruína nessas eleições, bem como de seus aliados no Rio de Janeiro. Já o PMDB, que tomou corpo no estado com a ajuda de PT e PDT, não quer mais largar o osso fluminense bem sujinho de petróleo. Talvez com isso espera plantar as bases do seu grito de independência no cenário nacional.

Os dois últimos postulantes com chances reais de chegar ao Palácio Guanabara flutuam sobre um substrato perigoso. A união de política e religião é o cerne do que há de pior numa eleição, pois produz polarização irracional e tira o foco das questões realmente importantes; tal mistura gera debates contraproducentes e transfere para o campo da fé questões simples que devem ser observadas à luz da razão e conduzidas pelo bastão do direito civil. Filho do fenômeno neopentecostal que aflorou por todo Brasil nos anos 80 e 90, Marcelo Crivella  é representante indiscutível do projeto de poder do grupo dirigido por seu tio, “bispo” Edir Macedo. Tenta inutilmente desvincular sua imagem da Igreja Universal do Reio de Deus, no entanto, é difícil crer que, se eleito, não fortalecerá uma instituição que cresce, em número de seguidores, alcance midiático e poderio econômico. Sua representatividade é incompleta na medida que suas convicções e valores são limitados por dogmas e preceitos que não contemplam toda a população com seus multi variados valores, costumes  e crenças, mas que ainda assim, devem gozar de direitos igualitários. Veste pele de cordeiro, mas para os não evangélicos, não consegue esconder suas garras de leão.

Outra figura que goza das controvérsias geradas pelo binômio religião e política, Anthony Garotinho, além das contradições entre estado e igreja carrega sob sua imagem acusações e condenações que colocam em xeque a ilibação de seu histórico político. No entanto, já que contradição parecer ser a palavra chave dessas eleições, amparado por projetos e programas de profundo caráter assistencialista que implementou em gestões anteriores, tem grande alcance frente as camadas mais pobres. O trágico de seu papel nessas eleições é que parece fazer valer o dito popular “rouba mas faz”. Se não tem envolvimento com nenhuma das falcatruas denunciadas sob sua gestão, sofre, no mínimo, de miopia aguda ou grande incapacidade de liderar, uma vez que não tem faro para detectar problemas de conduta de seus subordinados e funcionários de sua dita confiança. Ainda que não tenha culpa no cartório, incompetência já é um bom motivo para se pensar sobre o seu merecimento de voto.

A situação do estado no Rio de Janeiro é mais o menos tragicômica. Dá vontade de rir sem perder a vontade de chorar. A gravidade do quadro foi bem ilustrada nas redes sociais. Dia desses, no facebook, figurava uma tirinha com as fotos dos quatro candidatos citados acima; abaixo das fotos a seguinte frase nada enigmática: “E ainda dizem que temos direito de escolha”. Felizmente ou infelizmente, como saber? Não tenho acompanhado a disputa em nenhum outro estado na nação a saber se as “opções” são tão aterradores quanto as do Rio. O que me consola, ou consome, é que o quadro aqui já é tão preocupante que pouco sobra tempo para averiguar as querelas em outra unidade da federação. Não duvido que existam. Se não há remédio, passemos ao terceiro ato...

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

ELEIÇÕES EM TRÊS TEMPOS - PRIMEIRO ATO, NEM DESATO

E então mais uma eleição está à nossa porta. Fica difícil dizer se nós é que estamos cansados da mesmice ou se realmente a qualidade dos candidatos vem piorando a olhos vistos. Mais uma vez a polarização PT e PSDB domina o cenário. Esperem aí, para não parecer que quem escreve é maluco, pois dirão: “E a Marina?” Sim é verdade, a Marina veio com sede pra deixar a Dilma sem sono e o Aécio choramingando pelos cantos. A única “novidade” é essa. Um personagem ou outro com a cara que parece nova, mas o tempero do caldo é o mesmo da eleição passada. Com o agravante de que a Dilma já sabemos a que veio, o Aécio parece ter herdado a fleuma do José Serra e a Marina me cheira muito a um cavalo paraguaio, vem crescendo nas pesquisas, porém, longe de convencer.

Dilma, candidata que sabíamos desde sua vitória na eleição anterior, estaria no páreo atual, mantém a sua capacidade de realizar as mais absurdas alianças para permanecer no poder. O embrulho é tão complicado, que, por exemplo, se fosse fazer valer suas alianças no estado do Rio de Janeiro, deveria subir ao palanque com pelo menos quatro candidatos – candidatos esses os que realmente tem chance de chegar ao governo do estado. A salada ou mixórdia, como queiram chamar, é ainda pior quando ela figura entre os candidatos ao senado e a feira que é câmara de deputados federais. Para temperar essa moqueca eleitoral, podemos enumerar uma série de escândalos envolvendo, principalmente a Petrobrás, mas também obras remanescentes do primeiro PAC e já também do PAC2. Aliado a tudo isso, podemos ainda colocar uma pitada da inflação crescente, juros bem diferentes dos deixados pelo seu antecessor, uma balança comercial cada vez mais desequilibrada – não pro nosso lado, é claro – além de uma série de obras em torno no pré-sal nitidamente patinando, como o COMPERJ, por exemplo, apenas pra citar uma aqui pertinho.

Do outro lado do ringue, o tucanato paulista cedeu, finalmente ou tardiamente – como saberemos? – às preces da TFM. Não, não falamos aqui de uma nova torcida organizada vinculada a um partido político. Trata-se da Tradicional Família Mineira que, enfraquecidos os nomes paulistas, conseguiram por fim, engatar a campanha de seu mais ilustre filho Aécio Neves. O homem que almejou, alguns dizem que conseguiu, transformar a CEMIG na Petrobrás mineira, pôs enfim, seu nome à baila no pleito à presidência nacional. Ocorre que, não se sabe  que fato aconteceu entre o fim da campanha anterior e o início dessa, o Aê Aê Aécio, não goza da ampla simpatia de outrora, onde muitos acreditam que era melhor ele ter saído candidato em 2010 do que agora. Um Aécio morno e insosso aparece atualmente nas campanhas empunhando uma plataforma que difere, na prática, em nada ou quase nada do grupo que ora figura no poder. Para piorar sua situação, ele não consegue desvincular seu nome da construção de um aeroporto na região de Cláudio, município do interior de Minas Gerais, onde sua família tem uma propriedade secular. Provar à opinião pública que o fato de ser governador, à época da construção do aeroporto, não ter nada a ver com essa obra vir a privilegiar a sua TFM particular não tem sido fácil tarefa. A mídia, e temos a Vênus Prateada encabeçando a lista, tem explorado esse acontecimento abundantemente. Por último a cereja de seu bolo já quase azedo chama-se Marina Silva que... “como um gato”, nas palavras de Tadeu Schimdt, deu um salto nas pesquisas, ao que parece pondo uma pedra no sonho tucano de restabelecer a república do café com leite. Talvez as amargas marcas da era FHC não tenham sido esquecidas de todo pelo desmemoriado povo brasileiro.

Já a Marina, que saltou, ninguém sabe se como um gato ou de pára-quedas, talvez de dentro do avião onde seu companheiro de campanha tragicamente perdeu a vida, é outra vez destaque nestas eleições presidenciais. Talvez seja destaque por dois motivos: o primeiro deles foi que, ainda com um discurso contraditório, cheio de idas e vindas entre várias questões – o casamento gay é apenas a mais famosa delas – conseguiu surpreendentemente se posicionar muito melhor que seu antecessor de campanha nas pesquisas, disparando um potente obus no frágil casco da nau tucana; o segundo motivo que a põe em destaque é justamente a contradição. Nenhuma das campanhas que aí estão está tão repleta delas. Desde o momento em que, alijada do desejo de estabelecer seu próprio partido, uniu hostes com Eduardo Campos, político de carreira clássica, Marina Silva deu mostras de quanto é confuso o jogo político ou ainda o jogo do poder. Filiou-se a um partido sim, da velha política, tão combatida em seu discurso, e sem pudores e abalos, na trágica ausência do principal candidato, assumiu o comando do campo realizando alianças no mínimo curiosas. Como também é curioso o caso do arrendamento do avião onde faleceu o líder pêessebista, quando inocente, nossa candidata diz desconhecer o provável esquema de financiamento da aeronave bancada por várias empresas tituladas por laranjas. Está aí um esquema que a nova política parece ter aprendido rápido com a velha.

E para arrematar, a farra de sempre dos pequenos; note-se aqui, que alguns desses partidos pequenos começam a ter já algum fôlego regional como é o caso da pequena horda de Levy Fidelix. Mas se o resto da campanha não soa ainda como comédia, aqui temos os personagens absurdos e anacrônicos que temos grande capacidade em produzir. Repletos de promessas e discursos panfletários servem apenas para mostrar como evoluímos democraticamente. Num tempo onde pairamos divididos entre a mesmice e contradições, ter um bando tresloucado de candidatos nanicos vociferando o que bem entendem é grande prova que fazer é muito complicado, mas dizer, no Brasil, tudo é permitido. Incluo nisso essas tolas linhas que subscrevo.