segunda-feira, 15 de setembro de 2014

ELEIÇÕES EM TRÊS TEMPOS - PRIMEIRO ATO, NEM DESATO

E então mais uma eleição está à nossa porta. Fica difícil dizer se nós é que estamos cansados da mesmice ou se realmente a qualidade dos candidatos vem piorando a olhos vistos. Mais uma vez a polarização PT e PSDB domina o cenário. Esperem aí, para não parecer que quem escreve é maluco, pois dirão: “E a Marina?” Sim é verdade, a Marina veio com sede pra deixar a Dilma sem sono e o Aécio choramingando pelos cantos. A única “novidade” é essa. Um personagem ou outro com a cara que parece nova, mas o tempero do caldo é o mesmo da eleição passada. Com o agravante de que a Dilma já sabemos a que veio, o Aécio parece ter herdado a fleuma do José Serra e a Marina me cheira muito a um cavalo paraguaio, vem crescendo nas pesquisas, porém, longe de convencer.

Dilma, candidata que sabíamos desde sua vitória na eleição anterior, estaria no páreo atual, mantém a sua capacidade de realizar as mais absurdas alianças para permanecer no poder. O embrulho é tão complicado, que, por exemplo, se fosse fazer valer suas alianças no estado do Rio de Janeiro, deveria subir ao palanque com pelo menos quatro candidatos – candidatos esses os que realmente tem chance de chegar ao governo do estado. A salada ou mixórdia, como queiram chamar, é ainda pior quando ela figura entre os candidatos ao senado e a feira que é câmara de deputados federais. Para temperar essa moqueca eleitoral, podemos enumerar uma série de escândalos envolvendo, principalmente a Petrobrás, mas também obras remanescentes do primeiro PAC e já também do PAC2. Aliado a tudo isso, podemos ainda colocar uma pitada da inflação crescente, juros bem diferentes dos deixados pelo seu antecessor, uma balança comercial cada vez mais desequilibrada – não pro nosso lado, é claro – além de uma série de obras em torno no pré-sal nitidamente patinando, como o COMPERJ, por exemplo, apenas pra citar uma aqui pertinho.

Do outro lado do ringue, o tucanato paulista cedeu, finalmente ou tardiamente – como saberemos? – às preces da TFM. Não, não falamos aqui de uma nova torcida organizada vinculada a um partido político. Trata-se da Tradicional Família Mineira que, enfraquecidos os nomes paulistas, conseguiram por fim, engatar a campanha de seu mais ilustre filho Aécio Neves. O homem que almejou, alguns dizem que conseguiu, transformar a CEMIG na Petrobrás mineira, pôs enfim, seu nome à baila no pleito à presidência nacional. Ocorre que, não se sabe  que fato aconteceu entre o fim da campanha anterior e o início dessa, o Aê Aê Aécio, não goza da ampla simpatia de outrora, onde muitos acreditam que era melhor ele ter saído candidato em 2010 do que agora. Um Aécio morno e insosso aparece atualmente nas campanhas empunhando uma plataforma que difere, na prática, em nada ou quase nada do grupo que ora figura no poder. Para piorar sua situação, ele não consegue desvincular seu nome da construção de um aeroporto na região de Cláudio, município do interior de Minas Gerais, onde sua família tem uma propriedade secular. Provar à opinião pública que o fato de ser governador, à época da construção do aeroporto, não ter nada a ver com essa obra vir a privilegiar a sua TFM particular não tem sido fácil tarefa. A mídia, e temos a Vênus Prateada encabeçando a lista, tem explorado esse acontecimento abundantemente. Por último a cereja de seu bolo já quase azedo chama-se Marina Silva que... “como um gato”, nas palavras de Tadeu Schimdt, deu um salto nas pesquisas, ao que parece pondo uma pedra no sonho tucano de restabelecer a república do café com leite. Talvez as amargas marcas da era FHC não tenham sido esquecidas de todo pelo desmemoriado povo brasileiro.

Já a Marina, que saltou, ninguém sabe se como um gato ou de pára-quedas, talvez de dentro do avião onde seu companheiro de campanha tragicamente perdeu a vida, é outra vez destaque nestas eleições presidenciais. Talvez seja destaque por dois motivos: o primeiro deles foi que, ainda com um discurso contraditório, cheio de idas e vindas entre várias questões – o casamento gay é apenas a mais famosa delas – conseguiu surpreendentemente se posicionar muito melhor que seu antecessor de campanha nas pesquisas, disparando um potente obus no frágil casco da nau tucana; o segundo motivo que a põe em destaque é justamente a contradição. Nenhuma das campanhas que aí estão está tão repleta delas. Desde o momento em que, alijada do desejo de estabelecer seu próprio partido, uniu hostes com Eduardo Campos, político de carreira clássica, Marina Silva deu mostras de quanto é confuso o jogo político ou ainda o jogo do poder. Filiou-se a um partido sim, da velha política, tão combatida em seu discurso, e sem pudores e abalos, na trágica ausência do principal candidato, assumiu o comando do campo realizando alianças no mínimo curiosas. Como também é curioso o caso do arrendamento do avião onde faleceu o líder pêessebista, quando inocente, nossa candidata diz desconhecer o provável esquema de financiamento da aeronave bancada por várias empresas tituladas por laranjas. Está aí um esquema que a nova política parece ter aprendido rápido com a velha.

E para arrematar, a farra de sempre dos pequenos; note-se aqui, que alguns desses partidos pequenos começam a ter já algum fôlego regional como é o caso da pequena horda de Levy Fidelix. Mas se o resto da campanha não soa ainda como comédia, aqui temos os personagens absurdos e anacrônicos que temos grande capacidade em produzir. Repletos de promessas e discursos panfletários servem apenas para mostrar como evoluímos democraticamente. Num tempo onde pairamos divididos entre a mesmice e contradições, ter um bando tresloucado de candidatos nanicos vociferando o que bem entendem é grande prova que fazer é muito complicado, mas dizer, no Brasil, tudo é permitido. Incluo nisso essas tolas linhas que subscrevo.

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