terça-feira, 26 de setembro de 2017

FUNILARIA

Sempre empenado
pendente ajuste
tudo que custe
pra se emendar
Mais uma batida
nova pintura
nova moldura
um novo aperto
O que faria
calibração
nova demão
funilaria
Todo o desnível
toda cobrança
toda mudança
que te resgate
um novo engate
novo implemento
nosso momento
recuperar
Seja uma sina
em oficina
sempre quedar
um novo amparo
melhor reparo
se adequar
O meu concerto
não tem conserto
o que se força
nessa morsa
de bancada
uma mancada
não reparada
mas que parada!
Não me traria
o exato instante
tornearia
de novo amante?

AMOR DE GAUCHE

Você que faz versos
tão tristes

fala de tudo
da mesma coisa
tão tantas vezes
tão repetidas

Eu que na falta
tão reincidente
tão reticente
mesmas feridas

No meu jardim
quase nunca é primavera
mas sempre espero
sempre espero

o meu mergulho
meu grito rouco
meu verso louco
meu tempo pouco

sempre ao lado
enviesado
uma resposta
mesmo incomposta

minhas grosserias...
me carregar é tão difícil
pois raro afago
verso não há

cardo bilhete
que dê surpresa
nem nunca veio
que pelo meio

mas é vazio
que o copo está
que nunca enche
que nunca ancho

ache meu eu

No meu jardim
minhas vontades?
vontades muitas
nem só as minhas

mas no ramerrão
meu duro jeito
de incompletar
se completando

sem verso pronto
sem entendimento
tem seu momento
de se levar

mesmo sem forma
mesmo sem fôrma
que te ampare
mesmo sem jeito

também é amar.