terça-feira, 21 de outubro de 2014

TERÇAL

Tudo e o tanto 
e o tédio 
a todo e a toda 
forma ou fôrma 
travado e tolhido 
e molhado 
e moído 
e o molho 
com que as manchas tira 
na tira 
toalha 
malhada e molhada 
com que surra 
a surrada 
face 
a foice 
murada 
a murradas 
tão mansas 
tão massas 
de manobra 
e que sobra 
na obra 
um caco 
recalco 
recalque 
a cal 
com que calças 
com que calma 
me lava 
me leva 
me louva 
e me lova 
E naquela tarde eu não sabia do tempo 
eu não sabia do tampo 
eu não sabia de nada 
e nadava pra 
tudo e o tanto 
e o tédio 
e nadava 
mergulhado num prédio 
que não erigi 
nem demoli 
O tédio num tarde de terça 
na terça parte dos ossos 
nos fossos 
da carne e alma 
um maço 
em que amasso 
um monte 
que baça o horizonte 
e que afinal 
recomeça 
horizontal.

domingo, 19 de outubro de 2014

ELEIÇÕES EM TRÊS TEMPOS - TERCEIRO ATO, ME DESBARATO

Mais que a eleição para presidente ou para governador, uma terceira eleição, talvez mais séria, porém mais esquecida do público geral, é a eleição para o poder legislativo. Comumente deixado de lado, talvez por que acreditam realmente que não tenha tanta importância ou talvez puramente de propósito, o pleito para as câmaras de deputado e do senado correm por fora do acalorado debate nacional. Milhares de agentes e correntes se acotovelam para alçarem uma posição nas casas legislativas, sem que o grande eleitorado dê a devida atenção a uma disputa por posições igualmente relevantes no quadro nacional como é o caso dos governos estaduais e a presidência.

Basicamente, legislar, diz respeito ao ato de elaborar e decretar leis. Junto a isso, nas repúblicas e democracias modernas, dá-se ao poder legislativo o dever de fiscalizar o poder executivo, suas ações, planos e contas. Para tanto, uma estrutura e recursos são disponibilizados para tal poder no sentido de lhe conceder capacidade de atuação e, sobretudo, independência. Dessa forma, além dos salários, de deputados e senadores, toda uma outra gama de recursos lhes é posta a mão. Uma série de auxílios, seja para se locomoverem a serviço, seja para morarem foram de suas regiões de origem (todos vão para Brasília, no caso de deputados federais e senadores, ou para as capitais de seus estados nos casos dos deputados estaduais), são postos a disposição. Além disso, uma considerável fortuna é posta nas mãos dos legislatores para poderem conduzir seus gabinetes. O que lhes permite, prover de recursos, contratar pessoas para trabalho administrativo, para assessoria e outros tantos gastos que se faz jus para o exercício de uma legislatura plena.

Então, quando escolhemos um desse agentes nas urnas, estamos passando um cheque de uma quantia coniderável para que tratem com respeito de nossos interesses já que, numa democracia eles são eleitos para nos representar. Fora tudo isso, deputados e senadores têm direito às chamadas emendas orçamentárias; distorção do nosso sistema, esse mecanismo permite que em troca de votos importantes nas pautas da câmara e do senado, o governo federal destine parte dos recursos da união para obras nas regiões de origem de cada deputado ou senador, alimentando de forma viciosa o curral eleitoral de tais agentes.

Aliado a tudo isso, dentro das casas legislativas atuam outros agentes, que no mínimo soam sombriamente aos interesses realmente relevantes da nação. Sobre sua atuação, a lei, feita pelos legisladores, não abona nem condena suas práticas: é o lobista. O lóbi, ou lobby, do inglês, diz respeito a um grupo de pressão sobre determinados interesses. Ou seja, é possivel fazer lobby por questões de grande interesse a um grande grupo de indivíduos da nação, como também é possível fazer lobby por interesses que, devido ao poder econômico de quem exerce o lobby interessam a um grupo muito restrito de indivíduos.

E assim o lobista atua livremente dentro das casas legislativas, normalmente representando grupos de interesse econômico ou grandes grupos empresariais. Atuam no sentido de obterem vantagens com a aprovação de leis ou exercendo pressões no afã que possíveis emendas orçamentárias engrossem os cofres das empresas que representam no ganho de obras e concessões.

Dessa forma, quando, numa eleição damos pouca atenção aos candidatos do legislativo, deixamos de lado a fatia mais importante de uma nação inserida num modelo democrático. O dramático disso tudo, é que a eleição para deputados descai para a chacota, a piada, a graça. São tantos candidatos, desde palhaços (nada contra a categoria), ex-jogadores de futebol, atores, enfim, uma miríade constituindo uma verdadeira mixórdia com um tempo de propaganda na TV mínimo que inviabiliza uma escolha clara e isenta por parte dos eleitores. Desviada da grande mídia, a eleição para o legislativo encontra refúgio no campo do boca-a-boca e do regionalismo, sem que nenhuma proposta seja analisada de forma séria, e sem que nenhum desses postulantes sejam confrontados por seus eleitores.

Esse modelo, longe de parecer fruto do acaso ou de nossa cultura e organização social, tem muito de método e lógica, pois perpetua muitos agentes e grupos no poder em reeleições sucessivas, mantendo sob controle em currais eletorais a massa desorganizada que cultua seus "coronéis" locais. Enquanto o grande espetáculo dos pleitos executivos desfila aos olhos dos eleitores os mantendo atentos e polarizados em tais disputas, a verdadeira eleição ocorre sob nossos olhos, num trabalho de formiga magistralmente executado por cabos eleitorais, prefeitos e outros agentes no intuito de garantir seu espaço na permanente divisão do bolo da coisa pública.