terça-feira, 15 de março de 2022

Engolfamento

Um dia terei de volta

a espessa névoa de mistério que a tudo encantava?

Um dia a fome incauta
acordará do berço em que soçobra?

E esse morno em que se entorna
em que descanso essa madorna

E esse vaso? Essa vazão sem volta?
essa revolta em que me envaso

A fúria doce que me arrebatara
onde repousa tal gema rara?

Onde ocultara a estrela primeira
de minha juventude atravessada?

Um afogamento a tudo afunda
Que a tudo e a todos o tédio abunda.

Abunda o bumbo, bambo bobeira
Repique rápido rasteira

E o mistério que encantava
E a fome incauta

Permanecem imersos na espessa névoa
que a tudo engolfa.