o que foi que você viu?
nesse canto
enquanto canto
destilo
um desencanto
é isso mesmo!
um velho clichê
solta seu eco
e se repete
ou se repele
enquanto paga
ou se propaga
nas ladeiras velhas
da velha capital colonial
nos cantos de festa
uns versos dizem
tanto de mim
e sempre o que resta
fica disfarçado
num riso forçado
olho as meninas que passam
sempre a espera
das bodas impossíveis
o mesmo lamento
as letras do samba
contam e cantam
tais dores ordinárias
tua tristeza calada
vejo que esperam
sabe-se lá o quê
que amor prometido?
qual arrebatamento?
teu príncipe da europa,
quando virá?
uns tantos por ti dariam
sua pobre gleba
e eterna vassalagem
mas qual?
menos te interessa
mais te interessaria
se assim numa noite fria
por banquete
fosse conviva
de um exótico
talvez vulgar
repasto de iguaria
muita farofa
e cerveja
salsicha por cereja
sua apoteose seria
mas onde
indo
anda
esse
que espera
ou não espera
no ir vivendo
nas ladeiras
nos sambas
nas gafieiras
se anda
se onde
não interessa
o mais importante
é a promessa
do samba antigo
indo dizendo
na letra crioula
que aqui também se morre
mas muito se vive
na espera dos amores
no querer dos calores
que às vezes nem chegam
mas bastam
pra emoldurar a vida em brilho.
