domingo, 28 de agosto de 2016

SENTENCIAMENTO SIM, JULGAMENTO NÃO



Tem, segundo o rito constitucional, o nome de julgamento. Mas, sabemos todos, o veredito já está dado. Defesa e acusação, ambos, amparados em inumeráveis artigos - todos encontram ecos na lei que defendam seus pontos de vista - se acotovelam acaloradamente com o objetivo de provar suas teses. Um jurista, ministro, preside a sessão, mas não julga, nem julgará. O julgamento propriamente dito será dado no voto; mas o resultado é conhecido. Ou seja, não se chegará a conclusão de culpa através da estrita interpretação da lei, mas pela convicção já pré estabelecida de cada senador, já concebida antes mesmo de se começar tal julgameto. E a despeito da grande quantidade de testemunhas que acusam ou defendem, não parece que há mudanças no pendor da balança já posta antes de se inciarem os trabalhos.

Dilma Roussef será julgada por um posicionamento político; não se diz aqui se certo ou  errado. Mas nunca teremos a conclusão do fato, baseado na tipificação que se enquadra ou não na lei.

Mas o rito, este sim, deve ser cumprido a risca, no intuito de legitimar o governo que ora se costura, tal qual uma estranha colcha de retalhos. Opositores viram situacionistas, situacionistas viram opositores, e flutuando acima de tudo isso, imutável, o PMDB, espécie de corrente sanguínea ou medula por onde alimento e sinpases de nossa estranha política navegam ou mudam de sentido na mesma velocidade de um piscar de olhos ou do desejo de grupos que aguerridamente forcejam por se manter no poder.

Dilma jamais voltará a se sentar na cadeira de presidente. A setença já está posta à mesa e foi previamente executada. O nome julgamento é uma obrigação do processo de impedimento, mas não serve, pois o que se discute, diverge de combate a corrupção, não tem a ver se de fato houve ou não crime de responsabilidade, não tem ligação direta com o mergulho do país em uma crise; tem a ver com grupos de poder. O que ora sobe, luta desde 2003 para retomar o quinhão perdido; o que perde, esperneia para não perdê-lo, pois foi caro conquistá-lo a custa de muitas ideologias há muito perdidas.

Agora quanto a vontade do povo? Democracia? Isso é coisa de urna. Não cabe aqui, e ouvir o povo, parafraseando Guimarães Rosa, é muito perigoso.