LAR DOCE LAR

Deixa que eu cozinho
você lava a louça

teu amarelo das paredes
teu caos organizado

tua pequena janela:
horizonte

teu atravessar
por essa ponte

o subir dessa ladeira
teu futuro ladrilhado

as coisinhas de teu quarto
tua máquina de costura

tu cozinha essa aventura
hoje eu lavo o enlouçado

com um sorriso 
e boa sorte!

apartar-se
também é estar ajuntado

azulejos do banheiro
encardidos do passado

tua faxina rotineira
alvejando o enturvado

teu descanso
teu remanso

descansa hoje
pense no almoço

pode relaxar em paz
teus potinhos de geladeira

repousam teus sabores
teu paladar semanal

deixe tudo de pernas pro ar
apenas lave a louça

deixa que eu cozinho.

DOSES DE CACHAÇA

a tarde corre lá fora

quente abafada

uma música ressoa

e não ouço

sua voz retine

e eu vibro

no dourado

dos teus olhos de vidro

não tenho fome

não tenho pressa

não tenho tudo

que interessa

sucesso e direção

não convergem

o sentido do que digo

não sentido

liberdade!

soa seu bordão no peito

viro o copo

num só golpe e deito

meu riso fácil

no teu riso pronto

e me entrego

sem vacilo e tonto

mais de teu olhos

que de embreagamento

e lá fora corre a tarde

quente e abafada

como aqui dentro.

QUERERES A GOSTO

às vezes devia

às vezes desvia

teu canto excelente

enluarado

é uma doce cantiga

em agosto

em meus ouvidos

que gosto

teu verso tão vago

é preciso

preciso

precioso

às vezes não sei

às vezes queria

às vezes não quero

o que devia

e devo

ao que queria