quinta-feira, 21 de julho de 2016

DO ALTO DE UM PALANQUE

Há coisa mais sem sentido
que uma vida sem partido?

Não há lógica nem razão
de viver sem posição

o que por ter oposição
é movimento já esperado

não há viver parado
que até pra isso há escolha

riscar ou não a folha
a todo instante é decidido

por isso, pergunto e repito:

Há coisa mais sem sentido
que uma vida sem partido?

o que é desaprumado
é fazer do optado

verdade una e perfeita
não querer de outra feita

partido oposto igualado
entender que é mesmo o direito

de quem se põe de outro jeito
diverso do panfletado

certo é viver com elegância
vestido de tolerância

pros diferentes partidos
que temos aí encontrado

que fica enriquecido
tudo aquilo discutido

por diferentes visadas
e por vezes novas entradas

nascem de duas posições
que eram desencontradas

por isso absurdo é mesmo
vociferar tanto a esmo

tão tola neutralidade
que pra dizer de verdade

neutro mesmo só sabão
dito como bordão

sinônimo de qualidade
e arremato dizendo

que mesmo a gente querendo
pra encerrar o insistido

que coisa é sem sentido
dizer não haver partido

enquanto vamos vivendo!

quarta-feira, 13 de julho de 2016

PEDRA FUNDAMENTAL

Devagar...
descontrói-se o reino na terra

e um outro ainda turvo
se alevanta

onde a saudade
de pouco a pouco

se agiganta
como uma sombra no sopé da serra.

No alto e baixo
de uma Gangorra centenária

uma pedra fundamental
se esfacela

rasga-se um gibão
rompe-se um arreio

no chão a cela
dessa cavalgada temerária.

No sertão dos tempos
no sertão dos séculos

escreveu tua história antiga
seu cavaco

a embalar velha cantiga
que confortava a velhos

e fazia sonhar os novos
com as eras de antanho

com as secas e as cheias
no seu contar sem tamanho

das veredas e nos matos
e seu plantar perene.

Plantou tanto e sempre
que sua colheita

se espalha além das vistas
de sua chapada

tanto direita
quanto a esquerda

se perde no ondular
do mar-sertão

e pra onde olhamos
de um certo modo

sempre te vemos
no seu Carneiro

mesmo outro bicho
mesmo outro nome

marcado a ferro
marcado a sangue

marcado a alma
que não a negue:

no seu colher
vai se colhendo

no lembrar
se vai reinando

por nosso auxílio
viveu mais lírio

viveu mais tempo
que o seu tempo

e se aceitamos tal despedida
é por que levas

teu milho doce
teu feijão forte

com teus arreios
erigir ainda outra morada

fazer do elísio
tua cancha terra

correr no céu
tua vaquejada.