“Meu
pai não é bandido”! – disse Clarissa. Muito pior que bandido, Clarissa. Sei que
a miopia de quem ama o seu pai não deixa ver com clareza, mas seu pai é pior
que bandido. Bandido, traficante ou o que seja, todo mundo já sabe o que é. É,
no sentido tácito da palavra, um marginal,
ou seja, aquele que vive à margem da lei ou sociedade. Seu pai é pior que
bandido, pois, travestido de “salvador do povo”, usou da confiança do povo,
para fazer do público, particular. Seu pai foi acolhido por uma multidão de
eleitores, e, tomando o que pertence de fato e por direito constitucional ao
povo, fez daquilo que é do povo bem particular e meio de se perpetuar no poder.
“Meu
pai não é bandido”! – disse Clarissa. Muito pior que bandido ele é. Bandido nos
toma de assalto, com surpresa é claro, mas sem enganação. Seu pai Clarissa, nos
enganou e tomou o que é nosso. Fez de nossa esperança e confiança, endosso para
agir como se dono fosse do estado. Ao invés de promover com lisura, o bem estar
social, motivo pelo qual deve existir o estado, promoveu o bem estar financeiro
dele e de sua família. Seu pai é muito pior que bandido, pois se comportou como
um verdadeiro vilão. Essa é a palavra: VILÃO. Ou seja, aquele que é vil, pois agiu
com fingimento, falsidade, mentira, tendo em mente objetivos muito diversos dos
quais prometeu aos seus eleitores, e mais, diferentes dos deveres que tinha
para com toda população do estado, fossem seus eleitores ou não.
Seu
pai Clarissa, é muito pior que bandido. Seu pai, distorceu os motivos pelos
quais foi eleito e quer fazer parecer possuir uma inocência que todos os
brasileiros sabem inexistentes. Sabemos que não é uma exclusividade dele. Está,
nesse momento, fazendo companhia a outro “vendilhão” e enganador, igualmente
ex-governador como seu pai. Como seu pai, infelizmente, temos tantos outros,
que também são pais, mas que também figuram no hall daqueles que podemos chamar piores que bandidos.
Os
bandidos que comumente levam tal nome, assaltam, matam, mas o fazem
individualmente. Por isso devem, com rigor, ser exemplarmente punidos. Mas com
que rigor deveremos punir homens como seu pai? Que roubam e matam no atacado.
Sim eles roubam. Roubam recursos da educação, nos tornando mais ignorantes e
incapazes de vencer os desafios desse mundo em permanente transformação. Roubam
recursos da segurança, ajudando, note que irônico, os bandidos, na medida em
que os agentes de segurança do estado não tem a mínima condição de combater os
bandidos que desfilam pelas ruas. Roubam recursos da saúde, e dessa forma,
também matam, aos milhares todo ano, por falta de leitos, de remédios, por
falta de profissionais bem remunerados, qualificados e motivados. Notou
Clarissa, como seu pai é pior que bandido. Quisera fosse ele um mero bandido.
Poderia ser facilmente trancafiado numa jaula, resolvendo, num giro de chave
duma cela todo o problema. Mas como seu pai é pior que bandido, a mobilização e
força que o estado tem de fazer para detê-lo é enorme. Ele, através da inocência
do povo, se apoderou do poder concedido a ele pelas urnas e, dessa forma, se
tornou um homem poderoso. Poderoso política e economicamente. Por isso, podemos
dizer, com toda a convicção. É pior que bandido, pois sendo vilão e poderoso,
oferece muito mais perigo que um ocasional assaltante de rua. Os assaltantes
matam com balas. Ele nos mata com caneta, um sorriso e um tapinha nas costas,
todos os dias, silenciosamente.
Acredite
Clarissa, talvez tivesse sido muito melhor que o seu pai, fosse, de fato, um
mero e simples bandido, desses batedores de carteiras baratos, que abundam os
centros de nossas cidades Brasil a fora. Talvez, sendo um mero bandido, nos
tivesse causado tanto menos sofrimento e dor.