sexta-feira, 18 de novembro de 2016

UMA CARTA PARA CLARISSA




Meu pai não é bandido”! – disse Clarissa. Muito pior que bandido, Clarissa. Sei que a miopia de quem ama o seu pai não deixa ver com clareza, mas seu pai é pior que bandido. Bandido, traficante ou o que seja, todo mundo já sabe o que é. É, no sentido tácito da palavra, um marginal, ou seja, aquele que vive à margem da lei ou sociedade. Seu pai é pior que bandido, pois, travestido de “salvador do povo”, usou da confiança do povo, para fazer do público, particular. Seu pai foi acolhido por uma multidão de eleitores, e, tomando o que pertence de fato e por direito constitucional ao povo, fez daquilo que é do povo bem particular e meio de se perpetuar no poder.

“Meu pai não é bandido”! – disse Clarissa. Muito pior que bandido ele é. Bandido nos toma de assalto, com surpresa é claro, mas sem enganação. Seu pai Clarissa, nos enganou e tomou o que é nosso. Fez de nossa esperança e confiança, endosso para agir como se dono fosse do estado. Ao invés de promover com lisura, o bem estar social, motivo pelo qual deve existir o estado, promoveu o bem estar financeiro dele e de sua família. Seu pai é muito pior que bandido, pois se comportou como um verdadeiro vilão. Essa é a palavra: VILÃO. Ou seja, aquele que é vil, pois agiu com fingimento, falsidade, mentira, tendo em mente objetivos muito diversos dos quais prometeu aos seus eleitores, e mais, diferentes dos deveres que tinha para com toda população do estado, fossem seus eleitores ou não.

Seu pai Clarissa, é muito pior que bandido. Seu pai, distorceu os motivos pelos quais foi eleito e quer fazer parecer possuir uma inocência que todos os brasileiros sabem inexistentes. Sabemos que não é uma exclusividade dele. Está, nesse momento, fazendo companhia a outro “vendilhão” e enganador, igualmente ex-governador como seu pai. Como seu pai, infelizmente, temos tantos outros, que também são pais, mas que também figuram no hall daqueles que podemos chamar piores que bandidos.

Os bandidos que comumente levam tal nome, assaltam, matam, mas o fazem individualmente. Por isso devem, com rigor, ser exemplarmente punidos. Mas com que rigor deveremos punir homens como seu pai? Que roubam e matam no atacado. Sim eles roubam. Roubam recursos da educação, nos tornando mais ignorantes e incapazes de vencer os desafios desse mundo em permanente transformação. Roubam recursos da segurança, ajudando, note que irônico, os bandidos, na medida em que os agentes de segurança do estado não tem a mínima condição de combater os bandidos que desfilam pelas ruas. Roubam recursos da saúde, e dessa forma, também matam, aos milhares todo ano, por falta de leitos, de remédios, por falta de profissionais bem remunerados, qualificados e motivados. Notou Clarissa, como seu pai é pior que bandido. Quisera fosse ele um mero bandido. Poderia ser facilmente trancafiado numa jaula, resolvendo, num giro de chave duma cela todo o problema. Mas como seu pai é pior que bandido, a mobilização e força que o estado tem de fazer para detê-lo é enorme. Ele, através da inocência do povo, se apoderou do poder concedido a ele pelas urnas e, dessa forma, se tornou um homem poderoso. Poderoso política e economicamente. Por isso, podemos dizer, com toda a convicção. É pior que bandido, pois sendo vilão e poderoso, oferece muito mais perigo que um ocasional assaltante de rua. Os assaltantes matam com balas. Ele nos mata com caneta, um sorriso e um tapinha nas costas, todos os dias, silenciosamente.


Acredite Clarissa, talvez tivesse sido muito melhor que o seu pai, fosse, de fato, um mero e simples bandido, desses batedores de carteiras baratos, que abundam os centros de nossas cidades Brasil a fora. Talvez, sendo um mero bandido, nos tivesse causado tanto menos sofrimento e dor.