quinta-feira, 30 de agosto de 2012

RESPOSTAS

Quando no escuro
tateando
tendo o vazio vazando
transbordando
quando não sabe as respostas
das perguntas que ignora
quando não vemos a hora
quando não vemos o que foi

não tenha pressa da luz
não tenha pressa da nota
dessa prova imprevisível
dos receios
faça recreios
dos enganos
faça seus panos
o vazio se preenche
de maneira inesperada
não tenha pressa da luz
não tenha pressa de nada

o mesmo mais importante
é o primeiro passo de volta
ainda que muito distante
no seu retorno pra Casa.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

FRUTO PROIBIDO

Árvore frutífera
cujo nome nunca direi
não será dito
o nome do fruto
o nome da flor
teu nome?
não ouvirá

foi um lâmpiro
fruto de embriaguez
te achar assim
tão fruto
que nunca desfrutarei

nos batuques
nos botecos
minha sublimação
em copos de vidro baratos
em olhares perdidos
irrecuperáveis

da Árvore o nome?
existe?
inominável
eu bem o sei
mas não direi
pra que não saiba
na hora surda
a sua primeira
não me desvendes

a próxima parada
a próxima estação
do ano
de trem
de tudo parado próximo
de tudo que quedas
longe

bem foi uma surpresa
achar o produto
dessa Árvore
seu fruto encoberto
de adereços tão frívolos
e ver que na polpa
profundo mistério
sua dissimulada
doce e suculenta
semente e sedução

mas não tente
jamais
nunca
sempre neguei
negarei
o nome
a hora
do fruto adoçando
a boca que seu nome não dirá.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

IMPOSSÍVEL ACASO

Acaso já amou o impossível?
numa noite escura
já clamou pelo sol que não virá?
acaso já amou aquilo 
que ao alcance da mão
fugidio
ausente
feito gasoso
que de sonho
pura dissipação
sua matéria.
Acaso já amou o inefável
o não realizável
o infazível?
o que sempre destoa
o que não se harmoniza
o inconciliável?
o que pretendia
o que nunca disso passou?
o que nunca?
o que é isso?
Acaso já amou o proibido?
o proibido pra menores
aquilo feito com moderação.
Acaso já inutilmente amou
como amo
esse inútil instante
sem arrependimento?

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

NUMA NOITE

Na noite em que você voltou
eu te tomei pela mão
ungido pelo mesmo fogo

na noite em que você voltou
não dissemos palavra
o mesmo ato corriqueiro

tão íntimo cotidiano
quietos, mudos
movidos pelo mesmo instinto

anterior a essência
do primeiro dia
da primeira hora imprevisível

Na noite em que você voltou
como se nunca tivesse ido
como se fosse ontém

como se fosse hoje
sem antes nem depois
de amanhã

eu já sabia
na noite em que você voltou
de onde nunca havia saído.

DIFUSO

Foi na festa que não fui
que não foi
que na festa
que não
foi esta

A fantasia
que não foi
ainda guardo
pra um dia se realizar
ainda aguardo

indo ainda
nessa tardia
tarde ou noite
o que fizer
da sua espera

esfera
fera
mordida sem dentes
banguela
sem bengala

tanto o escuro
como o dia
alimentam sua cegueira
e nenhum oftalmologista
vai te devolver o sabor das coisas

sua obturação
sua obtusidade
sua vã esperança
falida
numa falácia

fuleira
fulana
fulo
e outras chulidades
não valem um neologismo

quando verso
quando um verso
quando ao inverso
do universo
verso único

não valerá
o meu anverso
não valeverso
o que diverso
difuso uso.