quinta-feira, 26 de abril de 2012

A FORÇA DO HÁBITO

Eu devo me habituar ao silêncio
devo me habituar que não saiba
devo me habituar a adivinhar teu café
com que roupa vai à rua
se usa o mesmo perfume

devo me habituar a ser oculto
enquanto mergulho nos teus pequenos olhos
quando pressinto o movimento do teu cabelo
quando antevejo teu perfume
poluindo minhas narinas

devo me habituar a esperar o melhor momento
de quebrar o gelo
de dizer o inefável
de tocar, furtivamente, tua pele
de contar as mais tolas piadas

devo me habituar a observar teu caminhado
teu pisar pronado, teu passo curto
enquanto olha o limo das calçadas
a procurar o quê?
a imaginar o quê?

A imaginar meus estranhos hábitos?
a ponderar a impossível hora que nunca chega?
a adivinhar meu eu tão ocupado
do teu eu passante eflúvio?
Ou a perder esse olhar que nunca me entregará?

devo me habituar a vaga chance
a esse caminhar por entre
demonstrando nenhuma intenção
do recheio que encerra toda elas
nessa onda prelúdio do naufrágio

devo criar o hábito pela força
por pura fraqueza
ou por fraqueza pura
pois do fraco e do forte que em mim vê
é pura força do hábito.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mt bonito, simples, claro... perfeito!