quarta-feira, 22 de maio de 2013

JUSTA COROAÇÃO

A Rainha partiu
num noite morna de maio.
Como que posso ouvir
seu mais usual bordão
"Quando eu partir..."
Quando partiu
partiu ao meio
o reino e a história
que história contaremos?
que reino viveremos?
Tuas mansas manhãs
teu sertão divisado
teu terreiro tão limpo
sempre a vigiar o carcará
que não vinha.
Tuas tramelas fechadas
teu fogão sempre aceso
tuas panelas de antanho
tua tecnologia
tua primeira eletricidade
partiram contigo
ficamos com ecos
à sombra da Rainha que partiu.
Quando partiu
atônitos pensando um recomeço
reconheço
que não há fim
em teu reinado
há muito que ser feito
há muito que ser contado
teu reino essência
de panos, pó, tua antiga louça
fica impregnada
no todo e no nada
do teu vasto sertão
espalhado por nós.
Quando me olho no espelho
de teu reinado
vejo propagação
vejo a tua Vargem
que se multiplica
teu olhar sereno e sério
prelúdio de reprovação
teu toque manso e firme
tua sábia observação.
Mais é chegada
do que partida
apenas uma ferida
se cristaliza
enterniza teu reinado
deixando um breve
doce-amargo
por saber sábia Rainha
que ainda é maio
e tua chegada
em novo reino
é tão sentida
não entendemos
só entendemos
como partida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não nos esqueçamos da melhor ambrosia que vinha direto do sertão, e a matéria... a tão lembrada matéria. Sem contar mts outras palavras e expressões que hj fazem parte do cotidiano: fazenda pro vestido de festa... menino malino... "punhá"... e as piadas que a sua Rainha fazia, tão a frente da sua geração, lembro: "É tudo filho de pai diferente". Dá pra ter saudade de quem a gente não conheceu? A resposta é sim, dá.