domingo, 29 de maio de 2011

DESTINO, NORDESTINO


Mês de junho vem chegando e nesse período a cultura nordestina sempre salta na sua forma mais popular que é o São João. Alguns dirão que é o carnaval com o axé dos trios elétricos baianos ou mesmo os intermináveis blocos de frevo do Recife e de Olinda. Mas o São João é, sem dúvida alguma, o maior movimento de expressão cultural nordestina. Enquanto o carnaval se concentra de forma massiva nas capitais e grandes cidades do litoral as festas de Santo Antonio, São João e São Pedro se propagam como um rastilho de pólvora pelas inúmeras, grandes ou minúsculas, cidades de todos os estados nordestinos; pelo litoral e principalmente pelo interior.

Lembrei e pensei nisso esbarrando com algumas músicas de Luiz Gonzaga espalhadas pelas muitas pastas do computador; também ajudou o fato de ter tropeçado numa peça maravilhosa, que, aliás, foi uma tardia, mas feliz descoberta. Me refiro ao maranhense João do Vale.

De João do Vale são muitas canções que conhecemos, porém, não desconfiamos da autoria. Para reparar essa injustiça, passei o dia pesquisando sua obra. Assistindo vídeos na internet, documentários, ouvindo músicas, versões, lendo letras. Mas calma, voltemos ao início. Tropecei em João ouvindo, de relance, numa novela um trecho de “Estrela miúda” cantada por Maria Bethânia. Os versos iniciais permaneceram ressoantes em meus ouvidos. Iniciei então uma pesquisa tal qual um pueril estudante, mas o maravilhamento foi de uma criança, descoberta de quem começa a andar.

Daí remonto ao mote do aqui começado. A cultura nordestina! João do Vale é uma peça autentica de sua riqueza. Um negro, semi-analfabeto, sertanejo, que vendeu doces, trabalhou na construção civil, converte-se numa peça ímpar da expressão de um povo. Com toda uma simplicidade, que punha ainda mais em evidência sua genialidade, ele retrata em suas canções as circunstâncias, situações e sentimentos da vivência sertaneja. Sem saber tocar nenhum instrumento, desconhecendo qualquer teoria musical, dominando de maneira rústica o mecanismo da língua traduziu em canções e poesia todo o peso de sua vida e de tantos outros nordestinos. Com isso não há que dizer que é triste sua obra; ao contrário ela põe em evidência a alegria e a riqueza nordestinas que conseguem emanar da miséria, da luta contra a seca e a opressão pelos senhores de engenho, pelos coronéis de gado e da política.

Agora, que mais um mês de junho se aproxima, a cultura nordestina pipoca pelos quatro cantos do país e borbulha em minha mente como água fervente. Lembro e saúdo Luiz Gonzaga, João do Vale, Jackson do Pandeiro e outros tantos, famosos e anônimos que propagam pelo Brasil a sina de ser sertanejo, mas que mesmo por isso, sentem o orgulho de seu destino, nordestino.

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